Thursday, October 26, 2006

Universo Pansexual nos cinemas


A vida de crítico de cinema não é tão boa quanto se imagina nem tão má, mas muitas vezes, se é obrigado a ssistir filmes horrendos em horários ruins. Ver "Shortbus" numa sessão das 9h15 da manhã, no Frei Caneca, está entre os melhores momentos, mesmo sendo cedo e você tendo dormido pouco.
"Shortbus ( Shortbus, 2006)" é a realização muito bem sucedida de um ambicioso projeto do escritor e cineasta John Cameron Mitchell (" Hedwig: Sexo, Amor e Traição", um filme que só existe em VHS), que foi realizar um filme dramático com temática forte e polêmica, por envolver sexo explícito. Um sonho de muitos profissionais dos anos 70. Mitchell aborda um universo pansexual de forma isenta, sem apelos baratos e maniqueísmos.
Inovador no estilo, provocante no conteúdo, Mitchell faz uma belíssima abertura com as figuras centrais de sua trama: uma terapeuta de casais ( Soon-Yin Lee) e seu namorado que parecem realizar todas as posições do Kama-Sutra, um ex-garoto de programa que se filma ao tentar realizar uma auto-felação e uma dominatrix, Severin ( Lindsay Beamish), que disciplina seu cliente rico e mimado, num apartamento diante dos escombros do World Trade Center. Conforme a trama avança vamos descobrindo que nem tudo é o que parece. A terapeuta que atende o ex-garoto de programa, James ( Paul Dawson), e seu namorado sarado, Jamie (P J DeBoy), que desejam abrir seu relacionamento para apimentarem a relação (eles dizem que "Casamento monogâmico é para heterossexuais"), é incapaz de ter orgasmo e estava fingindo. Através de James e Jamie, ela é levada ao Shortbus, uma espécie de club, onde todas as possibilidades sexuais existem. Sejam de voyeurismo, a jogos da verdade picantes ou salas onde diversos fetiches são realizados. A terapeuta pelas mãos do casal gay é levada numa jornada como uma Alice pós-moderna através de um país das maravilhas sexuais. Como define Justin Bond, anfitrião do lugar, o Shortbus é como os anos 60, mas sem esperança.
A ousadia de Mitchell é realizar um panorama, sem medo de controvérsia, revelando um universo de desejos ocultos que são postos em cena, e capaz até de mostrar que nem todos os corpos presentes são interessantes de serem observados. O diretor também mostra que sexo não significa intimidade e que muitas vezes, a simples presença constante de um(a) parceiro(a) não é relevante emocionalmente. John Cameron Mitchell tenta ir além do óbvio sempre que possível e em diversos momentos é bem sucedido. " Shortbus" consegue ser cândido e explícito. Eis seu grande trunfo.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home